Hello people…
Que eu sou saudosista, já deu pra perceber. Mas ontem passei de todos os limites. Quer dizer, do limite de vocês, porque a minha “matada de saudades” não possui qualquer fronteira!
Não sei se já contei aqui, mas eu nasci em Criciúma. Sim, com o pé na pirita, na capital do carvão. Com 10 anos, por motivo de trabalho do meu pai, que precisava pegar a BR 101 toda semana (na época em que ainda nem se discutia sobre duplicação), acabamos nos mudando todos pra Florianópolis. Na época eu estava no auge da minha infância, já tinha um determinado grupo de amiguinhas, atividades diárias como ballet, patinação, natação, o tal “paquerinha”...então imaginem como a notícia foi tratada por mim. Na verdade não lembro exatamente de tudo o que senti, mas lembro, por exemplo, da primeira vez que um casal veio visitar o nosso apartamento para comprá-lo. Foi uma dor no coração. Sempre quisemos um apartamento reformado, e um ano depois de ter conquistado os tão sonhados “móveis embutidos”, precisamos nos mudar! Lembro da minha festinha americana de despedida e de ter dançado no escuro com o menino que eu gostava. Lembro da minha mãe encaixotando os meus brinquedos. Lembro da coleção de “PLAYBOY” que encontrei durante a mudança. Lembro de no dia da mudança, minha mãe ter parado numa loja de animais para comprar um periquito macho para fazer companhia para a nossa periquita. Hoje ela diz que fez isso na tentativa de ver algum sorriso nos nossos rostos. Lembro de termos chegado antes do caminhão de mudança aqui em Floripa e de ter ficado sentada na sala vazia do apartamento novo, recortando uma lista telefônica, que era a única coisa que tinha pra fazer. Lembro dos pesadelos e das choradeiras na primeira semana que estávamos aqui. Eu e minha irmã acordávamos de madrugada dizendo que queríamos voltar pra nossa casa e que iríamos fazer faculdade em Criciúma só pra morar lá denovo. Lembro da falta que fazia morar longe da família. Já não tínhamos mais toda semana, almoços na casa da vó, nem brincadeiras no porão da casa dela, muito menos a alegria de dormir na casa das primas. Lembro de muitos outros momentos dessa fase, mas não de algum sentimento que tenha me marcado para sempre.
Na época provavelmente eu tenha ficado chateada com os meus pais, achando que eles tinham roubado tudo o que eu tinha de bom na vida, mas hoje eu sei que aquilo foi só para o meu bem. E que muitas coisas que eu tenho hoje e muito do que eu sou, veio em razão dessa mudança.
Enfim...desde que saí de lá, vira e mexe faço questão de voltar. Numas épocas mais vezes, noutras menos. Sou conhecida na família por não ter abandonado as minhas origens e por sempre que posso voltar lá pra fazer o que me foi tirado, como tomar café da tarde na casa da minha madrinha, ou dar uma volta no centro de Criciúma e comer crepe de chocolate. Já perdi as contas de quantas vezes fiz questão de pegar um ônibus daqui da capital e me esconder no meio das minhas lembranças. Me dá uma felicidade imensa.
Esse ano fui só 3 vezes pra lá, mas como estou morando em São Paulo tudo fica mais difícil. Aqui se encaixa outro assunto inerente a esse. Sou uma pura canceriana e dou um valor imenso pra família. Nunca tinha namorado muito tempo a mesma pessoa. Calma que vai fazer sentido o que estou escrevendo. Não que eu tenha tido problema em nunca ter namorado muito tempo, mas o que mais me doía era não poder compartilhar com alguém, todo o meu passado bom, por onde andei, aonde nasci, aonde brinquei. Porque um dia queria poder dar isso pra um filho o meu. A chance de ele também olhar pra trás da vida dele e poder sorrir com isso, de sentir uma saudade doída da infância, de tão boa que ela foi. Então eu conheci o meu namorado. Aos poucos, fui descobrindo nele a pessoa que eu procurava, que pensava como eu, que sonhava como eu e com quem eu podia, no escuro da noite, contar todas as minhas histórias de infância. Mesmo que por motivos assim não tão felizes (hahaha) o Marco também conhecia bem a minha cidade natal e por causa de trabalho, vai pra lá quase que toda semana. A primeira vez que fui esse ano, foi pra ir na formatura da prima dele. Pensem na minha felicidade. Aquela felicidade pura sabem? Aquela gratuita, que não envolvia qualquer quantia em dinheiro, mas o simples fato de “voltar pra casa” com alguém que significa tanto pra mim. Felicidade por poder dividir com ele lembranças tão íntimas minhas, que podiam parecer pequenas aos olhos dos outros, mas que pra mim tem uma importância grandiosa, que ele soube reconhecer e valorizar. Na segunda vez que fui, também com ele, passei somente uma tarde antes do carnaval. E a terceira vez foi ontem. Chegamos pela manhã, ele me deixou no centro de Criciúma, onde andei, andei, andei, tirei foto, tirei foto e depois passei a tarde inteira com meus primos e tias deitada na cama conversando e vendo foto. Foi uma delícia.
Mas comecei esse email falando sobre limites, ainda lembram? Então...eu sempre digo que daria um dedo pra voltar em algumas épocas da minha infância e uma delas é a fase do colégio. Queria muito lembrar da saída da escola, da brincadeira viciante de pular elástico, de ir andando com aquela mochila de rodinhas que fazia um barulho irritante nas calçadas de pedra. Sempre fico antes de dormir refazendo o trajeto pra casa naquela época. O que eu via pelo caminho, o que pensava. E dessa vez que fui, decidi refazer esse caminho. Podem me chamar de louca! Munida da minha máquina fotográfica (que só levei pra CCM pra tirar fotos do namorado surfando) saí pela cidade fotografando o que importava pra mim. Alguns devem ter me achado louca, mas depois que você mora em São Paulo você passa a não ligar nada para a opinião das outras pessoas que andam na rua. Ainda me utilizando dessa comparação com São Paulo....gente como aquela cidade é pequena! Andei, andei e levei menos de 1h pra ir em todos os lugares que fui....hahaha. Incrível!!!!
Era isso que eu queria contar. Quando eu escrevo muito, logo em seguida me dá uma preguiça de continuar escrevendo e eu paro...hahahaha. Mas acho que vocês entenderam o que eu quis dizer. Vou deixar uns dias em aberto o álbum com as fotos que eu bati ontem, pra quem quiser ver no meu Orkut (é só clicar em cima da palavra orkut). Vocês vão entender o que estou dizendo.
Vou parando por aqui. Chuvinha da porra! Beijosmeliguem!
p.s. nessa viagem lembrei de mais duas brincadeiras que eu fazia quando era criança. A primeira era brincar de ser padre. De tanto que eu frequentava a igreja, chegava em casa e rezava a missa, com tudo que eu tinha direito. Música, aquele papel com os salmos, até aquele sino e hóstia!!!! A segunda era ter uma rádio, que eu levava a sério, proibindo até as pessoas de entrarem na sala durante a gravação!!!! Posso com isso?