É engraçado como tudo ainda parece brincadeira. Em um dia eu estava preocupada em como levaria minha mudança para São Paulo e no outro em como contaria para os meus pais sobre a gravidez. Desse jeito mesmo, em questão de segundos minha vida deu uma volta de 360 graus fazendo com que eu sentisse a mesma sensação da de estar numa montanha-russa. Ainda lembro quantas vezes tive que ler o resultado do exame de sangue na internet pois custava a acreditar. Hoje não consigo mais pensar no descuido da pílula como um erro, porque ele me trouxe uma felicidade que às vezes não cabe dentro de mim. Mas naquele 29 de julho eu não pensei assim.
Minha irmã era a única que estava em casa e foi pra ela que eu corri ainda de pijamas e com o cabelo por lavar. Meu choro era confuso, num todo eu até estava feliz, mas quando pensava nos pequenos detalhes, parecia o fim.
A segunda pessoa pra quem eu contei foi o Marco. Tomei um banho literalmente molhado pois misturado a água do chuveiro escorriam lágrimas dos meus olhos. Dizem que antes de morrer sua vida passa todinha em flashes e eram eles que não paravam de passar na minha cabeça. Criei forças do além, escondi-me atrás dos meus óculos de sol e apareci de surpresa pra ele. Como o exame ficou pronto antes do tempo o Marco não me esperava, mas só de ver que eu não tinha tirado os óculos e que não falava nada, ele já deduziu o que eu tinha pra dizer. Queria ter parado o mundo naquele exato momento em que ele me sorriu. Talvez tenha sido um riso nervoso, mas por alguns segundos fez com que um sol surgisse no meio das minhas nuvens. Depois literalmente desabei em lágrimas mas fui rapidamente amparada por alguém que num segundo era filho e noutro já era pai. A sucessão dos fatos não importa em detalhes, o que vale é no que eles se transformaram num todo, em amor. Obviamente vieram momentos de pura felicidade, depois de preocupação e dúvida, mas nunca de tristeza. Se por vezes eu chorei sem saber para onde correr não foi porque eu estava triste mas porque eu estava perdida. Acho que aquele fato que aconteceu, de o médico achar que eu tinha perdido o bebê fez com que realmente déssemos valor para a felicidade que eu carregava dentro de mim em forma de um bebê. Lembro da reação da minha mãe quando o médico concluiu ainda com o aparelho de ultrassom dentro de mim que eu não tinha formado um embrião. Aquelas palavras caíram como uma comida estragada pra mim mas eu engoli o choro. Sabia que aquela seria a pior dor que eu enfrentaria até aquele momento da minha vida quando senti o aperto da mão da minha mãe na minha e encontrei o seu olhar voltado para mim que em silencio dizia: “Força filha”. Ela chorou, eu não. Muda entrei no banheiro e me vesti. Só me recordo de terem marcado um outro ultrassom para a semana seguinte e de não querer cruzar meus olhos com os do Marco que não carregavam qualquer tipo de expressão, em solidariedade a mim. Ele teve que ser e foi muito forte naquele momento. Como num transe, fui me carregando para a porta de saída. Sim, me carregando porque eu não conseguia sentir nada naquele instante, nem mesmo as minhas pernas. Foi ao ver a vida lá fora ainda acontecendo e saber que eu teria que encará-la agora não mais “mãe” que me fez desabar. De um lado fui amparada pelo Marco e de outro pela minha mãe, dois grandes amores da minha vida. Doía tanto, tanto. Ainda agora sinto lágrimas nos olhos ao lembrar da dor que eu senti ali. Os dois me carregaram até o carro. Lembro deles me segurando na frente da clínica e da dúvida da minha mãe se me levava até o carro do Marco que estava estacionado na rua ao lado ou se me levava andando até a minha casa que fica na rua do outro lado. Eu (pausa) não conseguia sequer respirar.
Dentro do carro me acalmei e ainda conseguiram me levar até o hotel para comer alguma coisa. Minha mãe precisou trabalhar e coube ao Marco me levar até em casa pra descansar. Confesso que durante o café da manhã em público engoli a dor que acabava comigo por dentro junto com um pedaço. Me fiz de forte, coisa que eu não conseguia naquele momento. Pisando fora do hotel mais uma vez desabei, só que dessa vez não deu pra me acalmar. Chorei por horas a fio. O Marco trocou minha roupa, me deitou na cama e ficou ali do meu lado durante horas, tendo que se fazer de forte pra que eu não me sentisse pior ainda. À tarde minhas amigas com flores e guloseimas foram tentar me confortar também. Naquele final de semana sentimentos oscilaram dentro de mim, mas graças a Deus dois dias depois eu soube que sim, um outro coração batia dentro de mim.
Foi sozinha que descobri que ainda seria mãe. Fui ao tal “último ultrassom” antes da curetagem que já estava marcada para o final daquela semana e não quis que mais ninguém passasse mais uma vez por aquilo. E foi ali que o médico descobriu que havia se enganado (eu não vou entrar no mérito dessa questão) e concluiu que eu carregava um milagre.
Pronto, parecia outra gravidez, todas as dúvidas e os problemas pareciam ter sumido. Fui recebida em casa com flores, presente para o neném, vinho para brindar ao tão querido neto. Minha mãe que foi quem mais havia sentido o fato de a filha estar grávida tinha outra feição. No dia em que contei pra ela, ainda confusa ela me pediu um abraço entre lágrimas de ambas as partes. Sempre entendi sua reação, afinal não tinha sido aquilo que ela havido planejado para mim. Ela sabia como era criar um filho e sabia que era a mulher quem mais sentia as consequências de ser mãe. Mas hoje só fala nesse neto. Todos vem me dizer a alegria que ela transmite quando fala do João Pedro. Meu pai nunca disse um “ai“ até porque vivia me pedindo um neto, o quanto antes. Hoje até fica brabo quando digo que quero esperar uns cinco anos pra pensar num segundo filho. Ele diz que no máximo em dois anos quer outro neto. Querido. Mas vamos ver o quanto ele vai cuidar do primeiro.
Acabei me empolgando pois comecei só querendo dizer mesmo que minha vida mudou muito sim, mas que hoje eu me sinto a pessoa mais feliz e realizada desse mundão de Deus. Acho que deixei isso bem claro no texto “Oi filho”. Quando penso em escrever sempre acho que não vou superar o que eu transmiti escrevendo aquelas palavras. É difícil competir comigo mesmo quando tenho os meus momentos de inspiração. Mas ainda quero escrever muito para o João Pedro e consequentemente pra vocês.
beijo beijo
Ultrassom morfológico ontem.
Sapatinho que ganhei da dinda e do tio Lipe. Estou pronto pra Copa do ano que vem.
Nenhum comentário:
Postar um comentário