Por incrível que pareça, naquela noite eu lembro que eu dormi. Deixei tudo pronto ao lado da porta de entrada do apartamento: minha mala, mala do João Pedro, lembrancinhas, bebê conforto, quadrinho da porta da maternidade, máquina fotográfica e filmadora devidamente carregadas e mais algumas coisinhas.
Deitei por volta da meia noite e abraçada com o Marco, sonhei com o nosso filho.
Como eu tinha que estar na maternidade às sete horas da manhã, acordei às seis, tomei banho, lavei meu cabelo, sequei, me arrumei e lá fomos nós embarcar naquela aventura de que tanto falei nesse blog. No caminho pra maternidade coloquei pra tocar no Ipod uma música que eu adoro: Open your eyes do Snow Patrol. Dividi o fone com o Marco e o caminho até a maternidade durou exatamente o tempo da música. A única coisa que lembro bem foi do nosso silêncio, que apesar de significar a ausência de palavras, nesse dia queria dizer totalmente o oposto. Naquele silêncio foram ditas tantas coisas, tantas coisas que não precisavam ser faladas exatamente pois estavam estampadas nos nossos sorrisos.
Chegando lá, encontrei a minha mãe, fiz o cadastro e fomos deixar as coisas no quarto. Foi tudo muito rápido e só nesse momento comecei a sentir um certo “medinho” por conta da cirurgia. Eu não queria ter que marcar a cesárea, aliás, eu nem queria fazer cesárea, mas aconselhada pela minha médica por causa do seu sofrimento devido ao encaixe e o tamanho da sua cabeça, decidi o que me parecia melhor pra você.
Já no quarto encontrei a minha médica, recebi todas as instruções e já vestida com aquela roupa horrorosa de hospital fui pra sala da cirurgia. Foi nesse momento que fiquei sozinha, sem o seu pai e sem a sua avó e foi nesse momento que segurei o choro. Junto com a roupa azul vesti uma maturidade, da qual eu sabia que ia precisar dali em diante. Entrei sozinha no centro cirúrgico e fui muito bem recebida por todos. Ta certo que a sala em si não é nem um pouco receptiva já que como disse a Mônica, parece um abatedouro, mas naquele momento nem me apeguei a esse detalhe. Fui colocada em cima da maca e logo me deixaram nua ali em cima. Isso não foi muito legal, mas durante a gravidez fui tendo que me acostumar com essa questão da nudez na frente de outras pessoas...hahaha.
Logo o anestesista já veio colocar o soro no meu braço e me dar as instruções quanto a anestesia peridural. Essa parte foi a mais chata. Não que essa anestesia doa (doeu menos que a agulha do soro no braço), mas a posição que você tem que fazer para a sua aplicação é muito desconfortável por conta da barrigona e você ta peladona e às vezes ela pode não pegar de primeira, como aconteceu comigo, daí a fisgada que dá na sua perna é ABSURDA! Em seguida você meio que para de sentir as suas pernas e isso é horrível. Na verdade você sente tudinho mas não dói, entende? E você vê as pessoas mexendo na sua perna mas você não sente. Ui ui ui. Já adianto que a minha conclusão final da cesárea é: FAÇAM PARTO NORMAL!!!! Minha mãe diz que a recuperação também não é lá essas coisas por causa dos cortes lá embaixo, mas tenho certeza que você se sente melhor bem mais em seguida do que a cesárea.
Depois que a anestesia faz efeito eles já começam a te cortar. Nessa hora o Marco chegou, sentou ao meu lado e como tinha um pano azul que separava a minha cabeça do meu corpo, ele não via nada. Ficou o tempo todo me filmando (eu estava horrenda de inchada nesse dia) e de vez em quando levantava a câmera para a cirurgia, tudo sem olhar nada. O anestesista foi um fofo, ficava o tempo todo me dizendo o que estava ou o que ia acontecer com o meu corpo. Acho que essa parte durou uns 20 minutos. A sensação não é lá essas coisas porque você sente te balançarem pra desencaixar o bebê, você sente te puxarem e tal. Fora que eu estava meio sonolenta e não parava de bocejar. Naquele momento eu não conseguia sentir emoção alguma. O Marco ficou filmando e uma enfermeira ficou com a máquina fotográfica. Daí chamaram o pai (no caso ele) para registrar o momento do nascimento. Depois disso eu passei de atriz principal do espetáculo a coadjuvante. O Marco registrou tudo e já foi pra sala aonde eles cuidam do bebê e eu fiquei sendo costurada. Não vi meu filho, não escutei o choro, tudo o que eu sabia era o que eu tinha ouvido das pessoas que estavam do outro lado do pano. Fiquei um pouco aflita por conta disso mas logo em seguida escutei o choro do meu bebê na sala do lado. Foi aí que a emoção voltou a tomar conta de mim e eu chorei sozinha ali deitada na maca. Chorei baixinho a conquista de ter trazido ao mundo o amor da minha vida. Não tinha nem mão pra limpar minhas lágrimas já que meus braços estavam estendidos ao lado. Depois de alguns minutos a pediatra veio trazer o João pra eu conhecer. Lembro que ele estava bem sujinho e choramingando. Encostaram ele do lado da minha cabeça e quando eu sussurrei no seu ouvidinho ele parou de chorar na hora. Passei a mão no rosto dele e fiquei com uma gosma grudenta na ponta dos meus dedos. A pediatra explicou que ele tinha nascido cansadinho e que por isso ia passar um tempo na UTI Neonatal. Eu estava tão feliz que nem me dei conta do que ela tinha dito. Quando ela saiu o Marco veio me dar um beijo e eu pude ver o olho dele cheio de água. Mais uma vez fiquei sozinha e me deu um medo pelo que ela tinha dito mas não quis demonstrar pra ninguém. Sabe quando a gente tem medo de algo e por isso não gosta nem de falar em voz alta?
Agora vou dar uma resumida. Depois de terminarem de me costurar eu fui pra uma área de recuperação. Nessa hora o Marco ficou comigo e mais uma vez vieram alguns médicos me tranqüilizar quanto ao fato de o João Pedro ter ido pra uma UTI e não estar comigo naquele momento. Eu só balançava a cabeça torcendo para que me deixassem sozinha. Assim que ficou só eu e o Marco, caí no choro. Por mais que todo mundo dissesse que aquilo era normal eu fiquei com medo e fiquei chateada porque só eu tinha visto o bebê por tão pouco tempo. O Marco já sabia vários detalhes acerca da existência do nosso filho e eu nada! Poxa!
Fiquei uns 40 minutos me recuperando e assim que consegui levantar minhas pernas e o bumbum pra mudar de cama, fui pro quarto. Lá todos já me esperavam e depois de algumas horas o João veio pra mim. Antes disso o Marco foi vê-lo algumas vezes na UTI.
Depois disso tudo, correu tudo bem! Permanecer dois dias na maternidade tem vantagens e desvantagens. A vantagem é que a qualquer susto você passa a mão no telefone e liga pra alguém vir te acudir e a desvantagem é que você não está na sua casa.
A recuperação da cesárea nos primeiros dias é a TREVA! Primeiro que fiquei 24hs coçando meu rosto por causa da morfina. Em todas as fotos eu estou um pimentão no rosto e não conseguia dormir de tanta coceira. Foi horrível. Descer daquela cama alta também era suuuper dolorido por causa dos pontos. Eu andava que nem uma velha pelo quarto, abaixada. E mais um monte de coisas chatinhas, como você estar se sentindo horrenda, ter muita gente ao seu redor quando você só queria ficar sozinha no escuro do seu quarto, você ter um bebê sob a sua responsabilidade e blá blá blá.
Teve um episódio engraçado na maternidade. Na nossa primeira noite sozinhos como pais eu estava com o João no colo e ele se afogou. Rapidamente ele ficou bem roxinho e eu apavorada com todas as milhares de histórias que escutei na gravidez sobre refluxo, comecei a chorar, entreguei ele no colo do Marco e gritei: “Vai procurar ajuda!”. Hahahahaha...gente, me mato de rir lembrando da cena. Na hora não teve nenhuma graça porque lembro que fiquei tentando ligar pra central das enfermeiras e ninguém me atendia. No fim o João ficou bem e eu me acalmei. Hoje sou super tranqüila com esses momentos e não me apavoro mais facilmente.
Teve outro episódio muito engraçado. Eu não podia rir muito por causa dos pontos. Se eu risse muito logo em seguida me dava uma dor absurda na barriga. Daí o Júnior, que estava me visitando na maternidade, começou a contar uma história muito engraçada e eu comecei a rir. Rindo muito pedi pra que eles parassem porque eu já estava com muita dor. Eu juntava todas as minhas forças pra não pensar na história mas era quase impossível. Daí uma enfermeira bem manézinha que estava tirando a temperatura do João começou a dizer pro Júnior não me fazer rir porque aquilo realmente doía. Só que ela dizia assim:
- Não “pódzi” rir. É “verdádzi” que dói muito.
Só que eu acho que ela falou essa mesma frase umas 50 vezes. Ninguém mais estava falando nada e ela não parava de dizer que não “podzia”! Gente aquilo foi o fim. Eu olhava pro chão pra não rir na cara dela e tentava não rir porque tava doendo demais!!!!!!!!!!!! Só sei que eu achei que ninguém tinha notado o jeito da enfermeira, mas foi só ela sair que o Júnior caiu na gargalhada. Aí pronto, não me agüentei e por conta dessas risadas passei horas agonizando de dor mais tarde.
People por hoje era só. Esse post foi escrito em umas 4 horas. Nesse meio tempo arrumei a casa, dei banho no João Pedro, jantei, comecei a ver um filme, olhei alguns blogs. Agora vou esperar o Marco que está chegando e dar uma olhada no João que está ali se mexendo no carrinho. Espero ter matado um pouco a curiosidade de vocês.
Vou botar umas fotos recentes dele.
Bom domingo pra todos!
Beijo beijo
Oi.
Dormindo com meu pai (essa foto não foi posada!).
Com a minha amiguinha Isabella.
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