sexta-feira, 28 de outubro de 2011
Crianças enfrentam doenças relacionadas à obesidade cada vez mais cedo
Pacientes mirins com excesso de peso podem ter que lidar com síndrome metabólica - a mesma que atinge os adultos –, convivendo com hipertensão, colesterol alto e diabetes desde cedo
Prevenir o ganho de peso das crianças e evitar uma evolução para o quadro de obesidade é o grande desafio atual dos pediatras brasileiros. O número de crianças pequenas acima do peso é cada vez maior: dados do IBGE já mostraram que em meninos e meninas entre 5 e 9 anos as taxas de obesidade cresceram cerca de quatro vezes em um período de dez anos, de 4,1% a 16,6% e 2,4% para 11,8%, respectivamente. Por isso, crianças estão apresentando doenças antes quase que exclusivas de adultos, como a síndrome metabólica, convivendo com hipertensão, colesterol alto e diabetes desde cedo.
Diante desse quadro, existe a necessidade de frear esse crescimento o mais depressa possível. "A percepção dos pais é totalmente equivocada. Muitos não reconhecem que o filho está acima do peso e outros acham que gordura é saúde", explica Virgínia Rezende Silva Weffort, presidente do departamento de nutrologia da Sociedade Brasileira de Pediatria.
Cuidado começa no pré-natal — Em geral, o momento mais claro do acúmulo de gordura começa na faixa dos dois anos de idade, quando a criança começa a ter acesso a outros alimentos e uma dieta menos restritiva. Também nessa fase, a ida ao pediatra fica cada vez menos frequente – ocorrendo somente por conta de doenças pontuais. "O pediatra precisa assumir o papel de alertar a família. Ele sabe quando a curva do peso não está bem. Mesmo que o pai leve só para tratar uma amigdalite, é preciso alertar. Mas eles não fazem isso, ficam constrangidos de falar em obesidade quando o motivo da consulta é outro", diz Durval Damiani, endocrinologista pediátrico do Hospital das Clínicas de São Paulo.
As orientações de uma dieta ideal para a prevenção da obesidade devem começar desde o pré-natal. Weffort explica que as placas de gordura nos vasos começam a ser formadas dentro do útero, por conta da influência da dieta da mãe e de fatores genéticos. Depois do nascimento, a formação ocorre de acordo com a alimentação complementar da criança. "Quanto pior a alimentação, mais rápido as placas podem se formar. Isso aumenta a pré-disposição para hipertensão, diabetes, acidente vascular cerebral, entre outros", diz Virgínia Weffort.
Até o sexto mês do bebê, é preciso garantir que a alimentação ocorra somente por leite materno, já que pesquisas mostram que isso diminui o risco de se tornar uma pessoa obesa no futuro. Na alimentação complementar, os pais costumam errar nos ingredientes da papinha. Em vez de repetir o mesmo sabor várias vezes na semana, é preciso variar os sabores, com todos os nutrientes e não só carne – por exemplo.
Exemplo dos pais — No momento em que a criança começar a partilhar dos hábitos alimentares da família, é preciso redobrar a atenção. O exemplo dado pelos pais é importante nessa transição e pode determinar o peso futuro da criança. "Muitas mães estão obesas. Quando elas escutam que o filho está acima do peso, dizem que só eles precisam fazer dieta", afirma Weffort. Cada paciente tem uma história diferente, por isso, pediatras devem adotar estratégias que funcionem para cada criança. "Precisamos entender melhor a obesidade. Existe uma relação genética, a diferença de paladar, se você gosta ou não de determinados alimentos, se faz ou não atividades físicas", diz Durval Damiani.
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