“COMPROMETIDO E MOTIVADO”
“- O que quer dizer cativar?
- É uma coisa muito esquecida, disse a
raposa. Significa criar laços...”
(Saint Exupéry – O Pequeno Príncipe)
Tenho, desde o ano passado, atuado como diretor médico de um certo hospital pediátrico do nosso estado e nesta função, obrigo-me por vezes, a entrar em certas discussões seja com colegas médicos, seja com pessoas da própria Secretaria de Saúde (SESAP) e é interessante perceber como, pouco tempo depois de assumirmos um emprego como funcionários públicos, já utilizamos o mesmo palavreado das repartições, o “burocratês”.
São termos e expressões como: “o Secretário está sinalizando...”, “Vivemos um momento...”, “Precisamos elencar os atores...”, “Celeridade” (este é ótimo, porque nunca tem o significado real do verbete). E duas destas palavras aparecem em qualquer embate quando se trata de recursos humanos: comprometido e motivado. “É assim que queremos nossos funcionários”, falam os gestores de qualquer nível do serviço público. Acontece que nos editais dos concursos públicos, não está expressa esta exigência, de forma que os aprovados têm todo o direito de não o serem!
Partindo deste ponto, percebi que compete a nós, gestores, tornar nossos comandados comprometidos com o setor saúde e motivados a trabalhar e lutar pela valorização da classe, pela reorganização dos hospitais e dos demais serviços de atenção. Marcamos a primeira reunião com a equipe médica do PS e... Cinco pessoas, incluindo este que escreve e o coordenador do pronto-socorro. Bom, transformamos então a reunião em uma sala de conversas sobre o hospital e passou-se a elencar (olha o burocratês ai) os principais obstáculos percebidos pela equipe como causa de tamanha falta de comprometimento. De fato, torna-se muito difícil exigir do funcionário que se trabalhe em um modelo de serviço público que permite escalas incompletas, falta de material e de medicamentos básicos, e ausência total de programas de capacitação do servidor.
Mais. Ao se retirar os médicos dos postos de saúde para formar as equipes de Estratégia de Saúde da Família, nossa política pública fechou as “portas de entrada” do SUS deixando apenas uma aberta, os serviços de urgência e emergência. Estes chamados pronto-socorros que funcionam 24h por dia, equipados ou não, são muitas vezes a única certeza de “consolo médico” para o usuário e passaram a atender, além das urgências propriamente ditas, casos sociais e pacientes que se desgarraram da atenção primária e especializada, resultando em superlotação. Agora, some-se a todos os obstáculos já apresentados, o nível de estresse ao qual nossos médicos estão expostos nos hospitais ditos de urgência e emergência.
Como seres humanos, providos de grande inteligência e com uma capacidade de adaptação absurda, conseguimos produzir em qualquer situação que nos forneça mínimas condições de trabalho. Conseguimos ainda, inovar, se nos for dado o mínimo acima das condições mínimas, porém o que nos tem sido ofertado em termos de saúde pública está abaixo das piores expectativas, do mais desmotivado entre os desmotivados, do menos comprometido entre os não-comprometidos.
Wilson Cleto de Medeiros Filho
(Medico, Pediatra – comprometido, sempre; motivado, ainda)
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