– Olá Cartola, como andas? E o morro da Mangueira?
– Alvorada, lá no morro, que beleza.
– E na sua casa, está tudo bem?
– Habitada por gente simples e tão pobre, que só tem o sol que a todos cobre.
– Eu entendo. Mas agora você está bem melhor, sem aquela tristeza.
– Acontece que meu coração ficou frio.
– O que faltava?
– Alegria, era o que faltava em mim.
– Em algum momento, você teve algum sintoma mais grave?
– Tive, sim.
– Qual?
– Queixo-me as rosas, mas que bobagem, as rosas não falam.
Nesse momento, olha para seu inseparável violão: “Só você violão compreende porque, perdi
toda alegria”, sussurrou.
O jovem psiquiatra faz uma pausa de reflexão. Quis mudar o diagnóstico, mas achou precipitado.
– E hoje? Como se sente?
– Bate outra vez, com esperanças o meu coração.
– Isso! Vejo você mais animado.
– A sorrir, eu pretendo levar a vida.
– Muito bem. Mas eu queria te falar uma coisa. Amanhã, não atenderei mais neste ambulatório. A coordenação resolveu fechar, devido à política de saúde mental.
– Tudo isso não passa de pura hipocrisia.
– É verdade.
– Não sabe o rumo que irás tomar.
– Não, não faço a menor idéia. Eu, que tanto defendo os pacientes.
– Mal começaste a conhecer a vida.
– Tive tantos projetos, para beneficiar todos, um atendimento melhor, acolhedor...
– Vai reduzir as ilusões a pó.
– Tens razão. O mundo tá difícil.
– O mundo é um moinho.
Dr. Gustavo Xavier é psiquiatra e ainda não viu a mocidade perdida.
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